Publicado em 04 dez 2025 • por Jackeline Ferreira De Oliveira Vieira •
Projeto encerrou mais uma edição com dois dias de exposições, apresentações artísticas e ações que reforçaram a educação antirracista e a valorização da ancestralidade africana em Campo Grande
A Escola Estadual Maria Eliza Bocayuva Correia da Costa, em Campo Grande, realizou, nos dias 5 e 6 de novembro, a 9ª edição do projeto “África em Foco”, reunindo estudantes, educadores, famílias e convidados em uma programação marcada por aprendizado, celebração e protagonismo estudantil. O evento, já tradicional no Novembro Negro, transformou novamente a escola em um grande espaço de reflexão histórica, valorização cultural e construção de consciência racial.
A edição de 2025 foi a maior já promovida, reforçando o compromisso da escola com a educação antirracista, a ancestralidade e o cumprimento da Lei 10.639/03.
O primeiro dia foi marcado por exposições temáticas preparadas pelos estudantes ao longo de meses de pesquisa. Cada turma apresentou a trajetória de uma personalidade negra e o movimento de resistência associado à sua história, tornando o aprendizado vivo e conectado à realidade social.
Entre os homenageados estiveram:
- Martin Luther King Jr. e Malcolm X — movimento pelos direitos civis;
- Mestre Bimba e Mãe Menininha do Gantois — ancestralidade e religiosidade;
- Dandara e João Cândido — figuras históricas de resistência;
- Elza Soares, Carolina Maria de Jesus, Bob Marley, James Brown e Arthur Bispo do Rosário — arte, literatura e música;
- Lélia Gonzalez e Toussaint Louverture — intelectuais e líderes revolucionários;
- Tia Ciata — referência fundamental na cultura afro-brasileira e no samba.
A turma do 6º ano apresentou a trajetória de Tia Ciata, matriarca do samba. O estudante Fábio Vicente de Vargas, 11 anos, destacou o impacto da pesquisa:
“Pensamos na Tia Ciata porque ela foi um grande marco no Rio de Janeiro. É importante aprender sobre isso, porque às vezes a gente escuta samba, mas não sabe o processo difícil para ele ser aceito. Conhecemos a história de uma mulher africana que teve grande influência no samba e que muita gente nem lembra. Antes eu não conhecia, mas fui aprendendo aos poucos e vi como a história dela é importante para todos nós”.
A diretora Adriane Lopes Moreira Leão reforçou a proposta pedagógica:
“A ideia é que os alunos entendam que o racismo e a desigualdade não são apenas temas de livros, mas causas de grandes movimentos de luta. Ao estudar João Cândido, por exemplo, eles conectam a história militar à luta por dignidade”.
O segundo dia do evento foi dedicado às apresentações artísticas que encantaram toda a comunidade escolar. Performances de dança, teatro e música deram vida às narrativas estudadas, evidenciando o talento e o engajamento dos alunos.
Entre os trabalhos apresentados, o 3º ano destacou a obra e a trajetória de Arthur Bispo do Rosário, relacionando-a à luta antimanicomial. A aluna Nicolly da Silva Morales, 17 anos, explicou a relevância do artista:
“O Bispo foi um artista que sofreu muito nos manicômios da época, e a arte era o refúgio dele. Ele transformou esse sofrimento em obras cheias de significado. A mais famosa é o ‘Manto’, que até representamos no nosso trabalho. Ele nos ensina que, mesmo diante de injustiças, podemos encontrar um sentido através da arte”.
Participante do projeto pelo quarto ano, Nicolly destacou a importância do “África em Foco”:
“Esse projeto traz reconhecimento e autoestima para as pessoas negras. Mesmo sendo grande parte da população, muitas vezes elas são apagadas pela sociedade. O África em Foco traz visibilidade e histórias que a gente não conhecia. Ele precisa ser cada vez mais valorizado”.
Além das apresentações temáticas, o dia contou com:
- Concurso de Desenho, com produções inspiradas na estética e cultura negra;
- Desfile Beleza Negra, promovendo representatividade e autoestima;
- Feijoada tradicional, fortalecendo a socialização entre estudantes e comunidade;
- Convidados externos, ampliando os debates e trocas culturais.
Educação antirracista como compromisso permanente
Para a equipe pedagógica, o “África em Foco” é mais que um evento: é um compromisso institucional com a formação cidadã.
“Para nós, o projeto já faz parte da identidade da escola. Os estudantes esperam por ele o ano inteiro. Mais do que formá-los intelectualmente, queremos formar cidadãos conscientes e atuantes no combate ao racismo”, afirmou o professor Deividson.
Idealizador da iniciativa, o Subsecretário Deividson de Deus Silva destacou o impacto da continuidade do projeto:
“É um orgulho ver o ‘África em Foco’ chegar à sua nona edição e perceber como uma ação nascida na escola se tornou referência no Estado. A celebração das nossas personalidades negras é base para o avanço do ‘MS Sem Racismo’”.
Texto: Jackeline Oliveira, SED
Fotos: Ricardo Agra, SED










