O curta-metragem “Neuroexplorador” foi produzido durante oficina de cinema na Escola Estadual Vespasiano Martins e contou com o protagonismo dos alunos nas decisões criativas.
O curta-metragem “Neuroexplorador”, desenvolvido por alunos do ensino fundamental e médio da Escola Estadual Vespasiano Martins, em Campo Grande, durante o segundo semestre de 2024, foi selecionado para participar da competição oficial da 1ª Mostra Nacional de Cinema Estudantil durante o 53° Festival de Cinema de Gramado.
A disputa, desenvolvida com o objetivo de promover a formação de crianças e adolescentes através do audiovisual como instrumento pedagógico, abrirá a programação do festival, que é um dos maiores e mais prestigiados eventos do mercado cinematográfico brasileiro.
A sessão acontecerá às 14h do dia 13 de agosto, no Palácio dos Festivais, em Gramado/RS, e a obra sul-mato-grossense concorrerá com 9 filmes do estado do Rio Grande do Sul aos prêmios de Melhor Direção, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Som, Melhor Edição e Melhor Atriz.
O filme foi resultado da parceria entre a Escola Estadual Vespasiano Martins, A Boca Filmes, Indie Films, Curso de Audiovisual da UFMS, realizadores cinematográficos independentes e do incentivo da Lei Paulo Gustavo do Estado de Mato Grosso do Sul. As aulas de cinema aconteceram concomitantemente à programação do cineclube “Filmes do 3⁰ Mundo”, que teve como objetivo valorizar produções do cinema brasileiro através de exibições, debates e do projeto de ensino.
Cinema – Instrumento pedagógico
Natália Pontarolo, aluna participante do projeto, conta como foi conciliar as funções de diretora e atriz, “fico feliz em compartilhar essa experiência no projeto de cinema. Atuar e dirigir ao mesmo tempo foi desafiador, porque eu precisava estar dentro da cena e, ao mesmo tempo, ter uma visão do todo. Aprendi a confiar mais em mim e também na equipe que esteve comigo. Foi uma experiência incrível e que me fez crescer muito”.
Giovana Amaral, coordenadora pedagógica do projeto, comenta as bases metodológicas do desenvolvimento do curso. A proposta do Projeto de Ensino nasce da convicção de que a escola pública é, essencialmente, um espaço de escuta, criação coletiva e de construção de sentido sobre e para o mundo.
“Quando dizemos que os filmes revelam quem os produz, reconhecemos o valor político e pedagógico das experiências de cada estudante. Nossos alunos têm muito a dizer, e cabe a nós ouvi-los, confiar em suas ideias e possibilitar as condições para que elas se realizem. Assim, aproximar-nos de sua realidade é mais do que um gesto terno: é firmar o compromisso com uma pedagogia emancipadora, que reconhece nos sujeitos a capacidade de pensar, criar e transformar”.
Nesse sentido, a organização curricular do projeto buscou oferecer uma formação voltada à produção cinematográfica. As aulas foram pensadas para capacitar os estudantes e, ao mesmo tempo, abrir espaço para o encontro entre diferentes saberes.
O curta contou com a colaboração de professores e estudantes do curso de audiovisual da UFMS, além de atores, figurinistas e produtoras locais. O envolvimento dos professores, coordenação e direção da escola também foi fundamental para o andamento do projeto.
Giovana lembra que fazer cinema com os estudantes foi, acima de tudo, um exercício de escuta ativa, de partilha de ferramentas e de construção coletiva do conhecimento. Ao reconhecer a inteligência presente em cada sala de aula, é reafirmado que todo processo de ensino e aprendizagem se sustenta no vínculo e no respeito mútuo. Aproximar-nos da realidade dos alunos não significa reduzi-los a ela, mas, junto com eles, ampliá-la e reinventá-la.
“Ao ocuparmos a escola com o cinema, afirmamos que a cultura é um direito, e que elaborar imagens é também disputar narrativas sobre quem somos e sobre o mundo que queremos construir”, enfatiza Giovana.
De acordo com Mateus Andrade, educador audiovisual do projeto, a iniciativa é importante para fortalecer o estado de Mato Grosso do Sul no cenário audiovisual nacional, “o Brasil é um país em que a produção e o acesso a obras audiovisuais ainda é muito centralizado na região sudeste. São principalmente movimentos como esses que buscam quebrar essa lógica. Tanto o curso, quanto o projeto, têm como parte de sua missão mostrar como cinema não é apenas aquilo que vamos ao shopping assistir”.
Mateus relata que o cinema pode e deve ser feito em outros lugares. “É dessa forma que podemos compartilhar, preservar e construir a cultura local de maneira coletiva, ocupando espaços que por muito tempo foram negligenciados nessas discussões. A educação, seja a escola ou a faculdade, se mostra como uma semente que dá origem a essas mudanças”.
Repercussão da seleção
Heloísa Vieira, professora da Escola Estadual Vespasiano Martins, comenta a recepção da notícia na escola, “A notícia nos pegou de surpresa. Ficamos muito, muito felizes. Uma euforia só. Todos os alunos me perguntaram como que isso foi possível, quem enviou a inscrição… E aí eles foram lembrando que a gente havia comentado sobre a submissão do projeto para o festival. Então eles ficaram muito felizes”.
Heliosa lembra da euforia ao saber da notícia da seleção, “disse para eles que era o filme das meninas, pois aqui é assim que a gente fala. Embora tenha meninos no grupo, o curta ficou conhecido dessa forma na escola. Importante, né? Importante principalmente por mulheres terem participado tão efetivamente da construção do projeto, desde o roteiro até os comentários sobre a montagem e a cor. Foi mágico para elas trabalharem nessa produção”.
“Assistir seus rostos iluminados ao se verem em tela, ao se reconhecerem como autores, é testemunhar a potência transformadora da arte quando ela nasce do comum. É um sentimento que mistura orgulho, esperança e responsabilidade para seguir acreditando em uma escola capaz de formar sujeitos críticos, sensíveis e organizados”, complementa Giovana Amaral.
Novos projetos
A unidade escolar tem interesse na execução de mais projetos, “a gente pensa em abrir as portas da escola mesmo para esses trabalhos, principalmente para as universidades. Nós já temos diversos projetos com parcerias. É só entrar em contato com a escola, temos professores de todas as áreas, os cursos profissionalizantes, o horário do clube no contraturno, nosso diretor Leosandro é muito receptivo, nesse sentido. Estamos nessa parceria desde 2018, e todo ano temos um projeto bacana desses para apresentar”, finaliza.
FICHA TÉCNICA – “NEUROEXPLORADOR”
Sinopse: Após inventar um capacete tecnológico, Mayana faz testes clandestinos que transformam a sua vida em um pesadelo.
Direção: Natália Cardoso Pontarolo; Valentina Carvalho de Farias; Yasmim Alessandra Oliveira Welfer.
Roteiro: Valentina Carvalho de Farias.
Direção de fotografia: Isabela Correia Fernandes.
Som direto: Isabela Rosa Benites de Maria; Taylon Cael Correria Silva.
Direção de arte: Max de Lima Antunes da Silva.
Edição: Coletiva.
Produção/orientação: Alan Batista; Aram Amorim; Felipe Feitosa; Giovana Amaral; Heloisa Moraes Vieira; Mateus Andrade; João Pelosi.
Oficineiros: Dayane Bento; Fabio Umeda; Felipe Bomfim; Isabela Lachi; Julio Bezerra; Laura Cristina.
Elenco: Natália Cardoso Pontarolo (Cientista Mayana); Giovana Amaral (Dublê da Cientista Mayana); Guido Nogueira Junior (Voz do Chefe); Taylon Cael Correria Silva (Dublê do Monstro).
“Neuroexplorador” é um filme de terror realizado pelos alunos do ensino fundamental e médio da Escola Estadual Vespasiano Martins, resultado de oficinas de cinema ofertadas pelo coletivo A Boca Filmes ao longo do segundo semestre de 2024. O projeto contou com parceria da locadora Indie Films. O projeto foi financiado pela Lei Paulo Gustavo e viabilizado, por intermédio do do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul.
Confira os Links:
Link para livro do filme com textos desenvolvidos pelos alunos
Adersino Junior, SED
Fotos: Arquivo escolar.